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Rodrigo Amarante, Marcelo Yuka, Ava e Outros @ Viva Ericson! Circo Voador-RJ 29/05/2012

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Poeta, ator, diretor, agitador cultural e o que mais aparecesse. Ericson Pires era alguém querido não só por um grupo de amigos, mas sim por uma sociedade cultural influenciada pelas suas obras, sua alegria e sua inquietude. Pouco mais de dois meses após sua precoce despedida do mundo, um gigante grupo de pessoas criou um evento/tributo ao ex-professor, onde além de explanarem a arte de Ericson, almejou juntar recursos para pagar os custos hospitalares.

Além de declamação de poemas de Ericson, alunos e amigos, aconteceu também exposição de obras feitas exclusivamente para o momento de saudade. Apesar da alegria visível em todos os presentes, uma aura triste baseada em excessos tomou conta de boa parte do grupo, tornando a festa um bom exemplo da arte improvisada e por vezes desorganizada que permeia várias ações de Ericson.

Infelizmente, por causa destes improvisos, a lista de imprensa do evento simplesmente desapareceu (sendo encontrada depois de muita espera dentro da bilheteria) e a lista de convidados e participações ter sido escrita à mão, corrida, deixando ainda músicos e convidados do lado de fora esperando alguém da organização ir buscar-los. Uma baixa ainda maior foi a de Oghene Kologbo, guitarrista nigeriano do Africa 70 que gravou 39 discos com Fela Kuti, que simplesmente foi barrado na porta por querer levar os músicos da banda Amplexos, Beatbass High Tech e Jeffin Rodegheri, para participar de sua apresentação.

Beijos na boca e de língua eram oferecidos como brinde para quem comprasse o livro de Ericson (a 30 reais) e outras intervenções artísticas foram acontecendo de maneira espontânea e surpresa. No palco principal, shows iam dando ritmo ao evento, aberto pelo Coletivo Organismo e sua surpreendente mistura de beat-box, repetidores e poesia. A apresentação curta, porém precisa, foi um perfeito convite para os presentes conhecerem o samba da Segura Nega, que teve participação especial de um dos vocalistas do Monobloco, fazendo um medley improvisado de canções d’O Rappa.

Ava, que tinha suas apresentações dirigidas pelo próprio Ericson, enfeitiçou a plateia com suas canções climáticas, de letras simples e gostosas. O baterista Daniel Castanheira ganhou destaque ao tocar em pé durante toda a apresentação, mostrando fôlego, força e segurança, enquanto Ava Rocha enxugava suas lágrimas de saudade e sentimento.

Em seguida, o mais esperado da noite, Rodrigo Amarante faria sua estreia solo. Os olhos não piscam e o público se fecha na frente do palco para saber do que esperar do músico carioca. Tímido, Rodrigo posiciona solitário uma guitarra em seu peito, respira fundo e puxa um parabéns para o homenageado, que completaria 41 anos naquela noite, para então começa a mostrar “O Cometa”, canção escrita para Ericson após um encontro com André Dahmer, gênio por trás dos Malvados e amigo.

Enquanto os amigos de faculdade brincam com Rodrigo, o restante do público espera um presente saudosista, logo atendido com “O Vento”, cantada baixinho pelos presentes. É interessante ver as canções do álbum 4, do Los Hermanos, ganharem uma cara ainda mais intimista, como “Primeiro Andar”, uma das últimas da mini apresentação. Para o suspiro total, “Evaporar”, do Little Joy, teve sua vez, causando aplausos efusivos do público.

Das novas, “Um Milhão” ainda parece tímida e pouco conhecida, mesmo após 14 execuções em território nacional e mais de 100 mil views no Youtube. Talvez este seja um sinal dentro do próximo trabalho de Amarante: um registro solo sem muita expressão, estimado para o fim deste ano. ‘I’m Ready”, com primeira estrofe em português e o restante em inglês, não parece empolgar em sua versão voz e guitarra. O refrão repetitivo até soa interessante, mas só o arranjo final pontuará o gosto. Já “The Ribbon” parece promissora. Formada por acordes simples, a faixa cresce e caminha para ser bem recebida, vide a acalorada palma no final.

Demonstrando o repertório variado que tem (veja o histórico de Rodrigo aqui), Amarante escolheu a inédita “Pode Ser” para encerrar o curto show. A faixa é prometida para o novo registro da Orquestra Imperial, também esperado para este ano, e contou com a participação de vários amigos, diferente do ocorrido com Oghene Kologbo, fazendo uma bagunça improvisada e até divertida, mas sem muita surpresa. Um tímido ‘tchau’ e o público também se despede da casa, já às tantas da madrugada de quarta-feira.

Contemplativo, quem ficou viu Marcelo Yuka e sua banda subirem ao palco para fazer o melhor show da noite. Denso, forte e de discurso direto, as canções de Yuka são uma bela dose de verdade dentro do nosso consciente. Ainda esperando o lançamento de seu álbum, Cibelle participou de duas músicas, enquanto que Amora Pêra se encarregou de dar voz as outras, que incluíram versões ainda melhores que as originais criadas por Yuka para sua antiga banda, O Rappa.

Apesar de anunciados, Jorge Mautner e Otto não fizeram suas participações e a intervenção artística do Hapax só começou por volta das três e meia da manhã, sem a paciência do público. Apesar da falta de organização, atrasos alarmantes e exageros, a boa quantidade de presentes e o clima de liberdade que o Circo Voador oferece fizeram de uma homenagem um momento ainda mais bonito para alguém que até hoje faz a poesia pulsar em nós.

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