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Resenha: Expo 86′ – Sobre Meninos e Lobos

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Álbum: Expo 86′

Artista: Wolf Parade

Lançamento: 29/06/2010

Selo: Sup Pop

Myspace: /wolfparade

Rockometro: 9,5

Ouvir um disco do Wolf Parade pela primeira vez invariavelmente me desperta a mesma reação: o desapontamento. Com Expo’86, último petardo da banda, não foi diferente. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi algo como ‘eles erraram a mão feio neste último trabalho’. Parecia ter em mãos mais uma prova para corroborar a minha teoria racionalmente irracional de que ‘a qualidade musical de um disco costuma ser inversamente proporcional à preocupação estética com sua arte gráfica’ – a belíssima imagem que ilustra a capa do cd, com menininhos de rosto pintado fazendo cara de mau, é um daqueles registros fotográficos de rara felicidade. Como o disco não descia, tratei de alardear aos quatro ventos o primeiro vacilo da discografia até então irretocável dos ‘lobinhos’. Azar o meu, sorte a minha: tive que propagar aos mesmos quatro ventos que eu estava redondamente equivocado. Novamente.

Mas, afinal de contas, o que há de diferente em Expo ’86? Embora possa parecer presunçosa a resposta mais adequada a meu ver só pode ser encontrada através do paradoxo ‘tudo e nada’. Isso porque a musicalidade deste trabalho é um verdadeiro liquidificador que ao mesmo tempo tritura e mistura o tom oriental – made in ocidente -, as taras experimentais e a grandiosidade progressiva do subestimado At Mount Zoomer, de 2008, com a urgência, o vigor juvenil e a vocação dançante de Apologies To Queen Mary, a sensacional estréia de 2005 que apresentou ao mundo o talento de Dan Boeckner e, em especial, Spencer Krug.

Mas os ingredientes não param por aí. Se em At Mount Zoomer a influência dos projetos paralelos/pessoais de Krug e Boeckner era apenas latente, em Expo ’86 essas outras musicalidades são flagrantes. O Handsome Furs, de Dan, traz a força contagiante dos sintetizadores presentes em Face Control (2009). Já Spencer herda do Sunset Rubdown o clima oitentista de Dragonslayer (2009) e pega emprestada a tensão fantasmagoricamente claustrofóbica da porção ‘Carey Mercer’ do Swan Lake.

Só que em Expo ’86, diferentemente do último disco do Wilco (Wilco, 2009), por exemplo, a integração das referências anteriores não tem um caráter puramente revisionista, mas acaba formando uma sonoridade plasmada, organicamente constitutiva, efetivamente nova: a bateria pulsante – uma das marcas registradas do Wolf Parade – organiza a colagem musical num registro mais espontâneo, amigo e direto, resultado da opção da banda em abrir mão de overdubs.

“Ghost Pressure” é certamente o carro-chefe do disco. Apelidada de ‘Beyoncé’ no set list das últimas apresentações do Wolf Parade, parece mais próxima do som sombriamente dançante do Eurythmics. Os vocais apaixonados de Boeckner geram um delicioso ‘constrangimento comovente’ que culmina numa sensacional sobreposição de vozes com Krug ao final da canção. Aberta a porteira, o estranhamento inicial dá lugar ao encantamento da redenção. Em “Oh You, Old Thing”, Krug emula Morrissey em uma típica balada de cortar os pulsos em que o eu-lírico fragilizadamente diz “ter conseguido encontrar uma nova forma de viver na tempestade”. O riff de guitarra que permeia toda a canção assim como o solo rasgado no meio da música são matadores. Literalmente.

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“Ghost Pressure” Ao vivo

Alternando momentos ora de fúria (“Pobody’s Nefect”, “Cloud Shadow on The Mountain”, “Two Men In New Tuxedos”), ora mais contagiantes (“Palm Road”, “What Did My Lover Say?”), com canções confessionais (“Yulia”, “Little Golden Age”) e mesmo decadentes (a magistral “In The Direction Of The Moon”), a grandiosidade de Expo ’86 encontra sua expressão de perfeição máxima em “Cave-o-Sapien”, canção que fecha o petardo e desde já a cereja do bolo de 2010 na opinião deste escriba. Não há como ficar imune à combinação perfeita entre o riff contagiante, a interpretação tradicionalmente doentia de Krug e todo o vigor rockeiro que desemboca no mais puro sabor de nostalgia pop expresso pela repetição incessante do verso definitivo “i got you ‘til you’re gone”. Fica um exercício para você, caro leitor: tente se controlar e não cantarolar os viciantes ‘ÔôÔôÔs’ que Krug e companhia estrategicamente impregnaram em “Cave-o-Sapien” apenas e tão somente para tornar essa experiência musical absurdamente viciante.

Eu não consegui: nem me controlar, nem provar a minha teoria maluca das capas, muito menos deixar de me encantar por este disco maravilhoso. E ainda não consigo entender porque tem gente que ainda perde tempo escutando o xororô do Arcade Fire… Vai entender.

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