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Resenha: ‘Doce Loucura’ ou ‘Um épico moderno’

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Álbum: The Age of ADZ

Artistas: Sufjan Stevens

Lançamento: 12/10/2010

Selo: Asthmatic Kitty

Myspace: /sufjanstevens

Rockometro: 8,5

Pra começo de conversa, coloquemos os pingos nos is: nunca fui fanático por Sufjan Stevens. E ainda não sou. Além disso, definitivamente não estou ao lado daqueles que consideram Come on! Fell the Illinoise!, lançado em 2005, uma obra-prima da música alternativa da última década. De qualquer maneira trata-se de um bom disco, que revela em alguns momentos a grande versatilidade deste compositor ao conseguir transitar com igual fluência – e por que não dizer maestria? – tanto pela ternura contida (“John Wayne Gayce, Jr”) quanto pelo barroquismo (“Chicago”, “Jacksonville”) sem perder o apreço pela melodia pop perfeita.

Cinco anos depois, cá estamos nós novamente diante de um novo disco cheio de Sufjan. Em que pese o demorado hiato, certas coisas não mudam. De maneira geral tendo a antipatizar com pessoas muito ambiciosas. Brincando de Freud, eu diria que tal pretensão na maioria das vezes serve apenas para mascarar uma fragilidade inerente e não raramente acaba resultando apenas em arrogância vazia. Paradoxalmente, porém, o que me faz simpatizar com Sufjan Stevens é precisamente a sua ambição em ser grandioso, que realmente transmuta para a arrogância, mas pasmem: ele tem algo verdadeiramente importante a nos oferecer!

O rapaz que um dia prometeu escrever um disco para cada um dos cinqüenta e um estados dos Estados Unidos (o que gerou aqui em terras brasileiras mais uma piada sem graça conhecida pelo nome de Sebastião Estiva, fraude incessada pelo grande Lúcio Ribeiro) e que em agosto foi responsável pelo lançamento de All Delighted People, um EP de 60 minutos (?!), volta à cena com o corajoso The Age of Adz. Pode ainda não ser a obra-prima de Sufjan Stevens, mas certamente é uma das bolachas mais preciosas de 2010.

O disco começa com a candura de “Futile Devices”, faixa que estabelece uma espécie de transição entre o clima predominantemente folk de Illinoise e The Age of Adz. Logo em seguida uma interferência simbólica rompe (parcialmente) com o passado e aponta os novos rumos musicais da atual encarnação do músico. Não há como passar imune pela trinca “Too Much”, “Age of Adz” e “I Walked”. A influência das sandices eletrônicas do Radiohead fase Kid A é muito clara. Porém aqui o desespero e o caos, tão caros à interpretação de Thom Yorke, dão lugar à doçura quase infantil do cantar de Sufjan. Do choque entre o clima robótico e por vezes etéreo dos arranjos, com as reminiscências redentoras de Illinoise o resultado é letal: emoções à flor da pele.

Como não poderia deixar de ser, a megalomania do compositor americano acaba fazendo com que The Age of Adz por vezes peque pelos seus excessos. “Now That I’m Older” e “Vesuvius”, por exemplo, possuem um tom celestial diabético. Já “All For Myself” padece do problema oposto, a completa falta de açúcar. Mas em ambos os casos os erros são apenas pequenos detalhes no conjunto da obra e devem ser perdoados. Ainda mais porque estes deslizes são completamente abafados pelo caos hipnótico de “I Want to be Well” e, sobretudo, por “Impossible Soul”, ato final – ou seria melhor chamar de atestado de insanidade? – de Sufjan Stevens: uma deliciosa balada sensual que sofre infindáveis mutações e acaba por se transformar em um delírio progressivo com pouco mais de 25 minutos (?!). Coisa de louco mesmo! (O mais incrível é que a música ainda assim consegue se manter ótima!).

Mas como já bem cantou o poeta português Fernando Pessoa ‘sem a loucura o que é o homem’? Sufjan Stevens, devo dizer, é dos raros.

2 COMENTÁRIOS

  1. Nesse mundinho da música de hoje, cada vez mais “correto” e insosso, há que se parabenizar os artistas que ainda fazem coisas ousadas. Música de 25 minutos que é boa do início ao fim – ótima na maior parte, e perfeita por uns bons 10 minutos – não é qualquer um que faz.

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