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“Não gostaria de ser o símbolo de uma época”, diz Marcelo Camelo. Leia nossa entrevista:

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Não gostaria de ser o símbolo de uma época diz Marcelo Camelo

Mormaço, novo trabalho de Marcelo Camelo, registra um homem em sua forma mais simples, mostrando o seu trabalho para o público e abrindo a sua casa para o mundo. É uma beleza caseira, guardada pelo tempo e transformada em 9mm, dando uma coloração mais de época e romântica ao registro. O lançamento marca também uma nova pausa nos trabalhos de Camelo, que agora se organizará para projetos futuros.

Este é o trabalho mais bem acabado artisticamente da carreira do músico, invadindo o palco e sua casa, canções inéditas do seu repertório e outras inacabadas em seu computador, resultando num trabalho não só do Camelo, mas estético do diretor Jack Coleman e emocional nas participações da esposa Mallu Magalhães.

Em nossa entrevista, Marcelo mostra sua preocupação estética e com os fãs, além do seu desprendimento com o tempo, alegando a velocidade em que as coisas mudam. O músico aproveita para explicar alguns pontos de sua forma de gerenciar a vida e suas criações, aproveitando para mostrar alguns pontos dentro de Mormaço, seu novo lançamento.

1.   Um criado mudo, um abajur antigo, microfone de época… Poderia dizer que Mormaço é a representação do Marcelo Camelo no seu dia a dia?
Sim, pode tudo. Meu dia a dia tem sido o lugar de onde retiro a vontade, inclusive, de fazer arte. Eu sinto uma relação entre os meus sentidos e a minha arte quase irreversível a esse ponto, por isso a presença das coisas que estão ao alcance dos braços.

2.   Em “Liberdade” você repete a música para que os fãs cantem com você. A presença massiva do público representa o que para você?
Ali naquele momento é a celebração da música, da ideia. Não é sobre mim, não me sinto o centro das coisas. A música é que é o centro. Estar com as pessoas cantando é o propósito da noite quando tem um show.

3.   Interessante o resgate do Mormaço a um repertorio seu mais seleto, caseiro, mas há quem peça outras faixas perdidas suas como ‘Bom Dia’. Existe alguma música que você nunca conseguiu mostrar ao público, mas sempre quis?
Eu acabei esquecendo de “Amendoeira”, que fiz pro meu Tio Bebeto e que acho que caberia bem nesse show. Cheguei a tocar “Pra falar de Amor” que fiz pro Erasmo, e faltaram algumas que ficam bem no violão principalmente do repertório dos Hermanos. Mas o show é uma coisa em andamento, a ideia é sempre ir mudando. Esse filmado foi só um deles. Um muito bom.

4.    Há diferença na recepção dos fãs em cada lugar do país? Porque escolheu Porto Alegre?
Há um pouco. Porto Alegre é um lugar convidativo pra este tipo de repertório. O público se sente a vontade com a ideia de um show contemplativo e em geral é mais silencioso. Isso favorece o show. A ideia de fazer o show lá foi uma junção de fatores que começou por este dado.

5.   Mormaço abusa da beleza estética, deixando a qualidade um tanto lo-fi, com granulados na tela. Seria a consequência de certos sacrifícios em prol de um resultado ainda mais belo no fim?
Esse termo Lo-fi se refere à fidelidade com a realidade. A intenção do filme, de nós todos, foi de ter fidelidade com a poesia e não com a realidade. As câmeras digitais e analógicas têm muitas diferenças. Fazer uma obra de arte envolve todas essas escolhas.

6.   Você é conhecido por tirar férias quase que radicais na música. Essa será a tendência pós Mormaço?
É o que eu quero fazer agora. Na verdade é a hora em que trabalho de verdade, como que mais gosto que é estar aberto e pesquisando a criação. São férias do trabalho organizado, dos horários, dos outros.

7.   A música sempre foi seu grande destaque, porém há outros atributos seus que tem chamado atenção, como a produção e a fotografia. Como divide seu tempo criativo?
Eu tento me livrar da burocracia da vida tipo no Pitfal do Atari, eu fico pulando crocodilos em cipós, com o telefone falando com banco, Net, Tim, Tam, tentando ser o síndico da minha vida. O tempo que sobra eu tento me divertir e trabalhar os sentido, estar assim com os sentidos à flor da pele e me divertindo. A música pra mim, por enquanto, é o que se faz sem se pensar muito. No meio disso tudo. Que envolve muita pesquisa, né?

8.   Diferente da maioria dos artistas, você trabalha bem pouco com clipe e mais num conteúdo geral e quando cria clipes, não os divulga como fazia com o Los Hermanos. Por quê?
Hm. Não sei. Eu acho que é um tipo de registro filmográfico diferente. Até aqui eu tentei fazer filmes maiores, mas não sei como pode ser daqui pra frente. Tudo muda, minha vontade muda bastante, minhas intenções, essa mediação com o público mesmo mudou muito, essa interface entre nós e os filmes mudou totalmente né, em 5 anos.

9.   Acredita ser o inspirador de uma geração de compositores, assim como Chico Buarque e João Gilberto foram para você?
Eu acho que as coisas mudaram, o paradigma é outro. Eu me sinto vivo, no jogo totalmente. Não me sinto confortável nesse papel porque as coisas mudam num piscar de olhos, a gente mesmo. Não gostaria de ser o símbolo de uma época, gostaria de atravessar isso com autonomia e bom gosto. E alguma expressão estética só minha.

10. O que da música brasileira em 2013 você poderia destacar até agora e como você vê o futuro?
Eu não me sinto numa posição confortável de avaliar como se importasse o que eu penso. Mas se você me perguntar meus gostos pessoais eu te diria que eles não obedecem mais só a esta ansiedade pelo que vem de novo. É claro que isso é sempre uma pergunta importante pra gente que lida com arte, mas meu gosto pessoal continua resinificando coisas de todas as épocas numa espécie de derretimento do inconsciente num tempo eterno que fica a serviço dos sentidos.

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