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Movido a Vapor, o baião psicodélico de Tagore

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Tagore
Um disco de estreia com toda pinta de veterano. Movido a Vapor, do quinteto pernambucano Tagore, é um registro da evolução do grupo que anos atrás lançava Aldeia, EP gravado em parceria com João Cavalcanti, responsável por abrir diversas portas para o grupo em importantes festivais.

Das 13 canções apresentadas, o novo trabalho conta com três canções do antecessor. “Poliglota”, “Enciclopédia do Ser” e “Crença” foram escolhidas para integrar esse novo repertorio ao lado de duas homenagens. “Todos os Olhos”, faixa-título da icônica obra de Tom Zé, e “Morena Tropicana”, de Alceu Valença, artistas com quem os músicos tem grande identificação, ganharam belas versões nas mãos da banda.

Em meio a arranjos e experimentalismos, “Movido a Vapor” é uma viagem no tempo, guiada por diversas referencias e estilos. A musicalidade é norteada pela linguagem do underground recifense, o célebre udigrudi – Ave Sangria, por exemplo, é uma das influencias declaradas de Tagore. Porém, esse passeio trilha caminhos entre o baião, folk e rock setentista.

Ao transitar pelas canções, surgem contrastes entre elementos regionais e urbanos, tradicionais e modernos. Além disso, essa dicotomia e reforçada pelas ironias cantadas em letras como as de “Ilhas Cayman”. A música, um discurso político, inicia com uma promessa de campanha peculiar: “Na eleição que vem prometo melhorar. Porém, sem parar de roubar / Pra praticar o bem, insisto em desviar mais cem milhões pra passear”.

Com muito bom humor, as crônicas cativam pela postura irreverente e as vezes politicamente incorreta, presente até mesmo na capa do disco. A foto, que mostra uma criança com um cigarro na boca, foi feita no dia em que o vocalista Tagore Suassuna comemorava seu primeiro aniversário.

A banda descreve o novo álbum como rock tropical, rural, psicodélico e retro-futurista. Seja qual for a classificação, o certo é que a estreia deixa evidente que o grupo ainda tem muita lenha pra queimar. Que esse vapor os leve cada vez mais longe, para que possam voltar com outras tantas músicas como essas.

Nota: 8,5

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