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Lencinho: Papo aberto sobre aberturas

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Cachorro Grande Circo Voador Rogério von KrügerCachorro Grande no Circo Voador. Foto por Rogério von Krüger

Produtores, banda de abertura não precisa ser encosto e nem motivo de ganhar cabelo branco. Também não precisa ser favor nem precisa chamar aquele grupo do seu primo que nem a namorada dele vai ao show porque a mesma torce para que ele acabe logo a faculdade de oceanografia e largue desse hobby que não vai levar a nada. Na verdade esse namoro vai durar menos que a banda dele, mas o texto não é sobre esse relacionamento. Voltemos ao assunto. O produtor que tem o mínimo de sensatez deve ver uma banda de abertura como investimento, como artista com potencial de um dia estar naquele palco como o headliner da noite.

O mérito do produtor que consegue programar aberturas que surpreendam o público não passa batido. A Tulipa Ruiz fez sua primeira apresentação no Rio de Janeiro abrindo para o Otto e a mesma ganhou uma resenha enorme do show no Segundo Caderno, do jornal O Globo, dois dias depois. Destaco também a abertura que o Tigre Dente de Sabre fez para o Hot Chip, e a Mahmundi para o Two Door Cinema Club. Nos três casos estamos falando de aberturas que dialogam com a atração principal, ganharam a simpatia do público e no dia seguinte foram bem citadas no, pegando o termo da obra recente do Tom Zé que você deveria baixar e ouvir, tribunal do feicibuqui.

Bandas, aproveitem esse momento. Mas entendam que vocês não são a atração principal. E cara, quem escreve isso para vocês, toca na noite e em raras ocasiões, tipo umas três, foi atração principal de alguma coisa. Mas também sei que somar e agregar na noite abre muitas portas para demais ocasiões. Eu sei que é super-chato começar para uma casa vazia, só que muitas vezes a noite tem que começar e ponto. E para os produtores não é nada prazeroso correr atrás de músico escondido no banheiro para adiar o início da apresentação.

Em algumas ocasiões com bandas de abertura nos bastidores, sempre pergunto qual é a música que escolheram para abrir o show. Dada a resposta, geralmente recomendo que esta seja a terceira música. Você é a banda de abertura e faz parte ser a abertura, como também há a possibilidade do público ainda estar disperso nas primeiras músicas ou matando aquela cervejinha mais barata do lado de fora do estabelecimento. Então é importante moldar o show para essa conjectura. Inclusive não querer gastar toda munição num show desses. É importante um show compacto e preciso que justamente provoque uma vontade de “quero mais”.

Sou super entusiasta de shows de abertura de trinta, trinta e cinco minutos. Acho um tempo bom para dizer a que veio. Sobre cachê é outro perrengue. Mas aí cabe o bom senso. Vale sim dizer não se acha que está sendo explorado, assim como cabe avaliar se em determinadas ocasiões vale aceitar menos por acreditar que essa apresentação é investimento. Só que muito cuidado mesmo. O que tem de malandro falando que vai ser bom pra sua banda tocar de graça no evento dele e que numa possível segunda edição vai rolar grana é quase uma epidemia. Saiba que seu trabalho tem valor. Agora cabe a você definir quanto vale o show!

Artistas maiores, acho vocês um verdadeiro pela-sacos quando rejeitam bandas de abertura. Claro, há situações compreensivas em nome de um espetáculo maior. Cito o mesmo palco do Circo no ano de 2012, quando Arnaldo Antunes escolheu a lona para apresentar seu “Acústico MTV”. O cenário era um carrossel que ocupava todo o palco. Era uma estrutura grande. E muito bonita, diga-se de passagem. Todavia, mal cabia outro amplificador de guitarra ali. Só que é chato quando o artista não quer apenas por capricho, por ciúme do palco, por um lapso de memória que o faz esquecer que já teve de abrir alguns shows na vida para chegar onde está. Acho até legal quando essas aberturas inclusive são indicadas pela banda “principal” da noite. O Lobão foi muito importante para a carreira do Cachorro Grande quando colocou os gaúchos para abrir seu show em 2004, só para dar um exemplo aqui.

Público, faça sua parte. Vá, incentive e compartilhe. E quer um papo reto? Não tem nada pior que você ligar no dia para teu camarada músico e dizer “Aí, tô sabendo que você vai abrir tal show hoje…”. Essa coisa de “tô sabendo” é um prefixo de “ então, tô afim de curtir, será que não rola um convite?”. É um papo chato porque esse seu amigo tá com a cabeça no show, no setlist, no que for. E você não está sendo direto. Ouvir “tô sabendo” em dia de apresentação devia ser nacionalmente proibido. E pior ainda é quando o cara coloca o seu nome e você só entra na hora do show principal com aquele bafo de cerveja e manda a desculpa clássica que perdeu o show do amigo por conta do trânsito. Lembre-se que o texto começa com o produtor lá em cima. E ele quer ver o resultado do que apostou. Produtor (bom) não é cego nem burro. Se o cara vê que nem os amigos do cara que ganharam cortesia aparecem no show é que alguma coisa está errada.

Enfim, bandas de abertura devem ter seu espaço. Mas a oportunidade, acredito, deve ser criada por ambos sujeitos envolvidos aqui nas linhas acima.

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