Resenha: Me Leva Junto Com Você, Raça Negra – Jeito Felinde

Álbum: Jeito Felinde

Artista: Vários (Raça Negra)

Lançamento: 12 de outubro de 2012

Site: Fita Bruta

Ouça: soundcloud.com/fita_bruta/sets/jeito-felindie-raca-negra

Rockometro: 9

Todo mundo tem uma história nostálgica sobre aquele momento musical da sua infância ou juventude. Eu mesmo já fui um grande fã de boybands, com uma rápida passagem pelo funk. Mas o meu amor mesmo sempre foi o pagodão clássico. Meu primeiro cd foi o inesquecível Farol das Estrelas, do Soweto – último disco lançado pelo Belo a frente do grupo. Meus pagodeiros preferidos eram os Travessos e as reuniões de famílias eram todas embaladas pelo Só Para Contrariar.

Sem sombras de dúvidas, o álbum que mais tocou no meu microsystem CCE era o incrível Raça Negra Ao Vivo, de  1999 (tenho até hoje esse cd e dois vinís). Este era o primeiro registro ao vivo oficial da banda de Luiz Carlos e trazia uma coleção de hits implacável e enfileirados de maneira tão certeira que deixava o público em êxtase a cada acorde iniciado. O interessante do Raça Negra é a forma evolutiva que traziam o samba, misturando um sax jazz e sendo conduzido por teclados sempre altos, donos de riffs que embalavam a introdução das canções e dando o estilo marcante de suas melodias, que aliadas com o vocal deprimido do vocalista e suas letras sofridas, fizeram do Raça Negra o maior grupo de pagode dos anos 90, batendo alguns recordes de vendas, inclusive.

Esses preceitos de jazz, teclados, riffs se enquadram também em bandas rock, de sertanejo, facilitando a transposição das músicas. Por isso que, nem de longe, soa absurdo ouvir um Giancarlo Rufatto fazer uma versão arrastada de “Maravilha”, uma das mais aceleradas do repertório dos pagodeiros paulistas. Aquele Jazz citado mais acima está muito bem distribuído na versão apaixonante que Vivian Benford criou para “Cheia de Manias”, outro clássico indescritível do Raça Negra.

E não dá para negar: todo mundo já se pegou cantando um verso de alguma música do Raça Negra. Seja você um religioso fervoroso ou um metaleiro ‘dumal’. É um tipo de canção que está impregnada na nossa mente de maneira definitiva. E agradeça, pois estas músicas já embalaram muitos casais, inclusive seus pais. “Quando eu te Encontrei”, presente no clássico vinilzão vermelho de estreia do RN, foi refeita de maneira dub pelas mãos do Amplexos, dando vontade de levantar os braços, abraçar alguém e chama-la para dançar, sem contar o aditivo ‘Skank‘ que a versão carrega, promovendo um encontro noventista propício para você correr para o videokê do bar da esquina e relembrar seu momentos de inocência. E vale a pena.

O interessante no Jeito Felindie é que as bandas se colocaram ali porque também participaram desse período. Ou você acha que as músicas do Nevilton não tem um quê de Raça Negra? Não? Nem com a produção top do Miranda? Talvez não, mas no nosso subconsciente há sim detalhes de melodia vocal que eles e muitos outros símbolos da nossa infância implantaram em nossa mente, talvez uma rima manjada ou a própria cisma de compor músicas de amor: a culpa também é do Raça Negra. Não há preconceitos que barrem essas verdades e se te traz boas recordações, porque negar os negões?

A versão “Shine On You Crazy Diamond” do Harmada para “É Tarde Demais” deu um clima ainda mais forte para a música triste, tal como a Lulina fez na sua versão de “Cigana” – com assobio do tema de “Criança Esperança”. Destaque também para a versão de “Deus Me Livre”, do Hidrocor, a sexy “Jeito Felino” na voz do casal Letuce, e a orquestral e doce versão de Nana para “Sozinho”, encerrando o tributo de forma ainda mais apaixonante que as músicas dos pagodeiros.

Jeito Felinde não vai acabar com o preconceito contra o pagode ou extinguir o abismo entre os ‘guilty preasures’ e a ‘indie music’. O que o Jorge Wagner queria mostrar quando criou este ‘monstro’ era que não há estilo musical, artista ou ano que vá fazer uma música deixar de ser boa. E o Raça Negra tem uma coleção delas e que viverão para sempre em nossos corações.