Resenha: Come Around Sundown é o passado, presente e o futuro do Kings of Leon?

Álbum: Come Around Sundown

Artista: Kings of Leon

Lançamento: 18 de outubro

Gravadora: Sony BMG

Myspace: /kingsofleon

Rockometro: 7

Geralmente um disco novo sempre causa certo impacto e animação, principalmente se você é fã da banda em questão. Para evitar julgamentos apressados (só vale a pena ser impulsivo quando se tem algo bom a dizer) e injustos, passei o dia todo prestando atenção no novo trabalho do Kings of Leon.

A ocasião é quase perfeita, já que o Brasil vai conferir um dos últimos shows da turnê de Only by the Night no próximo dia 10. Porém, a cereja do bolo, que é o lançamento do album Come Around Sundown, deixou um pouco a desejar e diminuiu o gostinho especial da festa. Ou seja, o novo disco não é melhor que o anterior e provavelmente vai passar longe das listas de melhores do ano.

O Kings of Leon evoluiu demais nos últimos anos. De uma banda country disfarçada de indie rock para um supergrupo mundial. Existem aqueles que detestam os dois primeiros trabalhos e existem um grupo ainda maior daqueles que odeiam os dois últimos albuns. Toda essa discordância parece ter incomodado a banda favorita dos pombos norte-americanos e o que se pode ouvir em Come Around Sundown é uma ousada tentativa de mesclar as duas fases da banda com uma pegada mais leve.

Essa decisão acaba demonstrando maturidade e a vontade de mostrar que a banda não quer ficar estacionada em uma única fórmula vencedora, mas que não tem medo de misturar os ingredientes vencedores. Talvez o quinto album soe melhor depois de algum tempo, mas em tempos onde as canções com mais de quatro minutos são facilmente descartáveis, não se pode insistir demais em um disco e tentar se apaixonar por osmose.

A princípio, o disco começa evocando o material de Only by the Night. A faixa “The End” (que ironicamente abre o disco) tem uma equalização semelhante à de “Closer”. A bateria e a guitarra recheadas de reverb somam-se ao riff do baixo e o resultado é, de longe,  uma das melhores canções do cd. O refrão extremamente comercial faz todo mundo cantar junto (na primeira vez que ouvi, detestei. Achei que tinham estragado a música).

Na sequência, a guitarra mostra seu poder de fogo e lança uma viciante riff em “Radioactive”. A música, que foi escolhida como primeiro single, é a que melhor ilustra esse mix do KoL com suas raízes. Com uma letra mística sobre os efeitos de se beber a água de onde viemos (vai entender filosofia religiosa de fazendeiros hippies que ficaram cool?), o clipe mostra a banda em uma vila e confirma a pegada gospel da canção.


Clipe de “Radioactive”

“Pyro” é até interessante, mas só fica boa a partir do solo (que lembra um pouco o som de bandas oitentistas). “Mary” é demasiadamente country disfarçada de indie. Destaque para a linha de baixo poderosa de Jared Followil (especialmente no final do primeiro refrão) e para um dos melhores solos de guitarra da discografia da banda.

A partir de “The Face” começam os altos e baixos de Come Around Sundown. A faixa é bem parecida com os momentos de menos brilho de Only by the Night e Because of Times, além de usar a tática manjada de muito reverb na bateria e guitarra e um riff chamativo no baixo. Espera-se que a banda não insista nessa jogada nos próximos discos… A melhor surpresa do album é a bela balada “Back Down South”. Talvez o melhor momento do disco, os Followil fizeram a sua parte folk-gospel falar bem alto e não ficou nada feio.

Felizmente o Kings of Leon guarda cartas na manga, e mesmo que os meninos realmente abusem da sorte e paciência de seus fãs mais críticos, e a dobradinha “No Money” e “Pony Up” (minha favorita até agora) salva o disco de ser um fiasco completo. A primeira música começa com uma riff de baixo recheada de distorção e tem uma das letras mais divertidas da nova empreitada da banda. O refrão “I got no money, but i want you so” pode ser bem adolescente, mas quem se importa? Não estamos falando de uma música do Restart ou do Hori, o Kings of Leon pode fazer (quase) tudo, por enquanto. Já a segunda vem com outra riff criativa no baixo e com uma bateria esquisita, digna das coisas antigas do Incubus. Impossível não gostar.

Come Around Sundown ainda tem mais outras três faixas, das quais apenas “Mi Amigo” merece ser mencionada. Trata-se de mais uma tentativa de misturar a pegada antiga da banda com a atual. Se continuarem assim, a banda perde a chance de ser a maior do mundo, mas vai ganhar uma verdadeira legião de fãs de fazendeiros hippies disfarçados de indies.

O saldo final de Come Around Sundown é que Caleb Followil economizou na sua cantoria lascívia; Jared Followil deu uma verdadeira aula de como se deve tocar um baixo elétrico numa banda de rock dos anos 2010; Matthew Followil continua criando riffs envolventes na sua guitarra; e Nathan Followil continua investindo no velho estilo de tocar fácil, sem inventar demais e abusar dos contratempos. Esse é um disco maduro e melancólico. Alguns fãs podem torcer o nariz e outros podem simplesmente amar. A dificuldade vai ser saber distinguir os fãs antigos dos novos na turma que elogiar o trabalho…