Resenha: A Plenos Pulmões

Album: Lungs

Artista: Florence And The Machine

Selo: Island Records

Lançamento: 06/07/09

Myspace: /florenceandthemachinemusic

Rockometro: 9

O que fizeram com a Kate Nash? Foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça quando ouvi Florence & The Machine. Se não me engano, era 2008 ainda quando ela lançou “Kiss with A Fist”. Na época não achei que vingaria. Apesar de ela ser mais uma das promessas de 2009, era o tempo em que Regina Spektor e Kate Nash estavam em foco. Sabe quando você já ouviu tantas “Kates Nash”, “Reginas Spektor”, tantas “Amys Winehouse”, que não dá mais atenção pra nada que seja parecido? Foi isso que eu fiz.

Chegou 2009. Florence e sua máquina continuavam aparecendo timidamente em alguns blogs sobre música. Na época eu ainda a esnobava. Até aí ela já tinha lançado os singles “Dog Days are Over” e “You Got the Love”. Mas então veio a música que me conquistou: “Rabbit Heart (Raise It Up)”. Vi primeiro o clipe – até então, creiam vocês ou não, eu não tinha visto o rosto dessa britânica. A ruiva, o olhar caído, a música com um refrão que te faz querer dançar naqueles campos ensolarados, descalço; com elfos. Me apaixonei.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=hHqbco0zHWo]Florence And The Machine – Rabbit Heart (Raise it Up)

E não é que consegui apreciar a voz da menina? – talvez porque Kate Nash e Regina Spektor já tivessem dado um tempo aos nossos ouvidos nessa época. Pouco antes do vazamento do disco de estreia, “Lungs”, uma ótima prévia foi a participação deles no festival de Glastonbury, na Inglaterra. Lá a vocalista já mostrou como eram seus pulmões – tanto para cantar quanto para gritar (muito).

E o álbum não decepciona nem um pouco. Não sei classificar Florence & The Machine qualquer estilo musical. O disco inteiro é uma viagem quase transcendental. Imagine um Woodstock com os Beatles. Florence & The Machine daria o mesmo barato. Nada é convencional no disco. A voz dela não é maqueada com distorções e efeitos eletrônicos – por isso não tiveram tanto destaque quanto outras revelações. Aliás, Florence & The Machine vai contra a maré de electros-alguma-coisa atual. Não espere nada de Lady Gaga, Little Boots ou La Roux. As batidas de tambores, guitarras, harpas (!) e cristais constróem um cenário mistificado para a música.

Misturado a isso, Florence Welch encanta com sua voz potente, que remete a Kate Nash e Feist, mostrando que o nome do disco (“Pulmões”) realmente faz jus à vocalista. Para sentir quão boa é essa produção: sabe aquela atmosfera de estranheza que artistas como Devendra Banhart apresentam? Sinta isso também ouvindo Florence & The Machine. A música te leva. Parece assim que é um disco para poucos, só para aqueles que apreciam esse tipo de música. Mas é quase impossível não ser levado por essa música. Pode confiar.

A única característica que incomoda, que faz com que, por pouco, o álbum não alcance um estado de perfeição, é a disposição das músicas. Há uma quebra de ritmos, fazendo com que a viagem musical tropece de vez em quando. Mas nada disso tira o mérito de um ótimo disco. Altamente recomendado.

por André Matiazzo