Planeta Terra 2010: Eu Não Fui, Mas Eu Senti


Foto: Ricardo Matsukawa/Terra

Terça-feira o RockinPress completa dois anos de vida. Lembro que meu objetivo ao criar o blog era, acreditem, somente ir de graça no Planeta Terra. Curiosamente o site cresceu muito além das minhas expectativas (que envolvia apenas 3 meses de duração), viramos Insiders de outra grande festividade e até hoje eu nunca fui no tal do festival do Parque. Nesse sábado, assim como nos outros 3 anos, sentei em frente ao meu velho e enferrujado pc para assistir a transmissão ao vivo do evento, feliz por estar com banheiro perto, bom som e com o msn ligado.

Quando o Pata, do Holger, disse algo como ‘provavelmente, todos os integrantes da banda já tinham vindo ao Planeta Terra e agora é muita emoção estar em cima do palco” – e com o Passion Pit assistindo o show deles da coxia – você pensa o quanto o evento é importante no calendário brasileiro, tanto para os fãs quanto para as bandas. São pequenas sacadas que fazem, a anos, toda a diferença na concorrência e nos mostra o quanto que não estar lá é perder uma chance de ajudar o Thomas Mars a dar o maior ‘Crowd Surf’ da história de qualquer festival no Brasil, ou a possibilidade de subir no palco do Of Montreal vestido bizarramente, mesmo você sendo uma das atrações do evento, como foi o caso dos Novos Paulistas. A festa não é só do público, todos ali sentem algo diferente, uma satisfação de fazer parte de um evento que tem críticas técnicas quase zero e que agrada a gregos e troianos.

Mesmo quando todos já davam como certa a participação do Daft Punk no show do Phoenix, o Passion Pit causava estranheza no público que chegou a pensar, erroneamente, que se tratava de playback naquela voz cheia de efeitos e falsetes de Michael Angelakos. Já prontos para o combate, o Hot Chip fez um show contrastante com todos os elogios que seus fãs deram no twitter, ao largar a dança e aproveitar o Wi-Fi gratuito do local para twittar, quase coletivamente. Mais pro final, o duelo anunciado no twitter entre Billy Corgan e seus Pumpkins, contra Stephen Malkmus e seu Pavement, acabaria em guitarras, gritos e um revival sonoro adolescente que mexeu com a banda Holger e com o ‘expectador internético’ Marcos Xi, com o público sem “1979” e com a idade estampada na cara de Malkmus… mas todos estavam lá, sentindo.

O tempo realmente foi um fator forte. Enquanto que os Pumpkins tocam com um baterista que nem era nascido quando Billy Corgan e James Iha lançavam suas primeiras fitas demo, em 1989, o Mombojó, banda que acompanho desde seu primeiro álbum, tocando em casas pequenas e público as vezes escasso, recebendo elogios de uma massa com 2, 3 mil pessoas, que até arriscaram cantar “Deixe-se Acreditar”. O Girl Talk e o Hot Chip também são do início dos anos 2000, como o Mombojó, e estavam lá monstrando seu set com o Yeasayer e Empire to The Sun, bandas que mal tem 3 e 4 anos de vida ainda, mas celebrando juntas, tocando seus hits e se tornando inesquecíveis lembranças na história dos ‘grandes shows que eu não vi’.

Tá certo que, pelos vídeos, o público não parecia tão inflamado quanto se deveria esperar. Talvez estivessem se divertindo nos brinquedos que o gigante e aconchegante Playcenter tem a oferecer, ou talvez descansando no Lounge que o Planeta Terra simpaticamente preparou para o relaxamento – o importante é não perder a festança. Bem, não dá para assistir tudo. Na briga entre horários, escolher acaba se tornando perder, e o ótimo line up acaba proporcionando isso, com a triste escolha entre Passion Pit contra Phoenix e depois abandonar o Phoenix com possibilidade de Daft Punk para ver o Hot Chip balançando o público com hits enfileirados. A telinha do computador nunca clicou tanto de show para show como nesse sábado – graças a transmissão de exímia qualidade (tirando os cortes com pessoas falando inglês e espanhol do nada e o som desaparecendo sem nenhum aviso).

Talvez o Planeta Terra seja uma meta que o RockinPress ainda deva seguir, um objetivo que tenho medo que se complete. Se ouvir na caixinha de som do pc, com volume moderado para não acordar ninguém, Billy Corgan sussurar “Drown” e Tulipa Ruiz enumerar as qualidade de “Pedrinho” já é ‘teste pra cardíaco’, imagine ver aquelas projeções impressionantes no show do Mika, a lisergia do palco do Of Montreal ou a ‘saudade inédita’ do Pavement de perto, cantar e esgoelar em lágrimas… Acho que já sei o que é felicidade.