Ls Jack, Vinny e Twister @ Chá de Alice, Circo Voador 4/5/2013

Eu tava lá, com cara de ‘o que eu to fazendo aqui’, mas estava lá. Aquela união bizarra de nostalgia com o medo de ser visto por algum amigo, talvez algum vestígio de preconceito musical adormecido, estava aparente na entrada do Circo Voador, mas rapidamente foi se dissipando ao perceber a enxurrada de hits noventistas que a DJ Larissa Conforte disparava sem dó de sua CDJ. Imagina o filme que passa na sua cabeça ao lembrar daquela música de abertura clássica da Malhação, “Te Levar”, do Charlie Brown Jr.

Vamos admitir. Porque aquela música que você gostava quando era mais jovem virou motivo de vergonha? Música é música, rapaz. Seja daqui há 20 anos ou 10 anos atrás. Não é porque sua cabeça ficou mais velha ou seus amigos de um nicho mais diferenciado que você não pode se esbaldar naquilo que já te causou longos sorrisos. Gosto e preconceito andam juntos numa sociedade do ‘é pop não gostei’, mas que deveria ser ‘é boa, seja lá de que estilo for’. Eu sou fã do que me apetece, seja o “Suit Tie” do Justin Timberlake ou o “Raining Blood” do Slayer.

Claro, há os oportunistas sem sal também. Típico caso do Twister, banda que abriu a noite do Chá de Alice. Com apenas 35 minutos de show e uma fila interminável de covers, viu sua plateia basicamente ignorar seu único hit, “40 Graus”, numa fria recepção, com exceção do grupo de garotas embaixo do palco que gritavam ainda seus 15 anos de idade para os 5 cantores da boy band. Esperto foram eles, que aproveitaram para gravar vídeos da plateia se estasiando exatamente com as versões apresentadas de Cazuza e Lulu Santos, comprovando a falta de boas músicas para levantar o público em seu repertório autoral. O Twister, que se veste da mesma forma que há 10 anos atrás, parecem não ter assimilado as gordurinhas sobrando e a idade mais avançada, que chega a bater na casa dos 40 de alguns integrantes.

Essa é a grande diferença para o próximo artista. Não sendo mais o mesmo nome que era antes e com uma longa carreira, Vinny soube se reinventar com o tempo. E mais surpreendente ainda foi vê-lo subir no palco como um super power trio de tirar o fôlego, lançando-se num Ska extremamente dançante e pesado, sem perder a cara e a características das músicas original. Imagine o Vinny abrindo o show do Gogol Bordello, do Skatalites ou do Streetlight Manifesto sem dar nenhum estranhamento ao público e ainda arrancando aplausos. Sim, isso mostra a confiança que o músico tem no seu trabalho, que já passou por acústico, jazz, baladas, pop e agora encontra esse formato extremamente empolgante, agraciado ainda com covers certeiros de Bob Marley e Natiruts. Pago para ver um show neste formato.

É evidente que manter o LS Jack na ativa parece mais como um conforto ao vocalista Marcus Menna (e principalmente ao bolso dos músicos) do que uma nostalgia de uma das maiores do país. Marcus se esforça ao máximo para passar alguma segurança, mas não há como invocar o grande rock n’ star que já foi um dia, infelizmente. Sua voz não sai no ritmo da música, gritos sobram e o tom se esvai. A palavra de ordem é ‘rock n’ roll’ para Menna, enquanto a banda se desdobra para conseguir dar prosseguimento a um show que não engata, não empolga, só causa a estranheza e a decepção. Não sei se é saudável ver as pessoas com cara de pena, mas o que se pode tirar da apresentação, lotada de hits, é uma banda de grande técnica tentando abafar a voz que não sai na frente do microfone. O mic, alias, foi constantemente abaixado para um volume quase inaudível para não deixar ainda mais perceptível a falta de desenvoltura e fluência vocal do Marcus Menna.

No fim, a experiência acabou sendo destrutiva a minha memória afetiva. Aguardo agora o renascimento do Maurício Manieri para, juntos, entoarmos outros clássicos de corno com algum aglomerado de pessoas que tenham em sua cabeça um pouco de liberdade e felicidade, e não preconceito contra seu próprio passado.