O Sábado letárgico de Cícero

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Sábado parece triste e bucólico. Sem fortes emoções, o disco de Cícero – que recebe o nome do sétimo dia da semana – traz uma tristeza vazia e um pedido de entendimento sobre o que nem ele parece compreender.

Após o sucesso de “Canções de Apartamento”, a expectativa para o novo álbum parece ter desnorteado o músico de forma exagerada, resultando em um momento de introspecção. O próprio confessa a necessidade de recuar e entender o que estava fazendo. Mas, a entrada nesse processo singular e demorado o fez letárgico.

Sábado beira o cansativo pelo simples motivo de necessitar uma audição mais paciente e prestativa, que só se digere após algumas audições. Não existe um prazer imediato ao ouvir-lo. A problemática gira em torno do minimalismo e do ato de “medir” o tamanho das coisas.

Todas as faixas contam com elementos sublimes e pequenos, que acabam em um pacote de pormenores. O que podemos entender é que para Cícero a proporção desses detalhes seria maior e juntos se tornariam grandiosos, mas não é o que ocorre.

Se o detalhamento era o foco – para assim criar uma possível formação e refinamento de público – era necessário que a minúcia fosse mais valorizada. Mas o carioca parece não se importar com isso, tocando apenas para si, em um momento egoísta, onde nem as participações de Marcela Vale (Mahmundi) e Luiza Mayall são apreciadas.

As contribuições de Marcelo Camelo tocando bateria, guitarra e baixo, SILVA com seus teclados e Uirá Bueno (Canastra) com percussão e também bateria são mais perceptíveis, mas nem por isso exercem o papel de ritmar as canções, apenas preenchem espaços.

Nas primeiras audições você identifica referencias exageirada a Daughter, Radiohead, Paulinho Moska e “Chega de Saudade”, muita carga emocional destinada ao sucesso repentino, inesperado e a pressão imposta a sua carreira, muita preocupação de ser  ele mesmo, de ousar mais na utilização da língua dentro da métrica na música e também acerta ao retirar guitarras e focar na tentativa de emoção orgânica.

Destacam-se as faixas como Capim-Limão e Ela e a Lata, que criam uma sequência interiorana interessante, onde o sentimento da ausência urbana atrai o ouvido e Frevo por Acaso, que também tem seu espaço com palmas em valor de percussão.

Cícero Rosa Lins conquistou mais do que esperava, teve um forte despontamento, que ironicamente acabou fazendo-o recuar e pensar nas questões cruciais de sua carreira. Claro, ele poderia colocar essas indagações em uma trabalho mais assertivo e assim tatear seu espaço, mas preferiu se trancar com seu seleto grupo de amigos e construir pequeninas canções que ecoam apenas em suas paredes.