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ANA MULLER
Ana Muller EP

Garimpo Brasileiríssimos
31/01/2017
anamulleroficial.com.br

Nota

Ana Muller conta uma história. Seu EP de estreia é um registro sensível e forte de sua trajetória. E o compartilhar desse trajeto revela o quão sincera é sua voz, suas letras e sua melodia.

A sonoridade de Ana Muller passeia entre o folk, a nova MPB e o pop. A complexidade do disco mostra a transformação, não só de um relacionamento, mas da própria cantora que enfrentou momentos difíceis – a depressão, os dilemas e frustrações da vida adulta – e carrega em sua voz a leveza de quem não se esquece de agradecer. Em sua conta no Instagram a cantora capixaba não deixa de mencionar a importância de sua família, amigos, companheira e fãs. E dedica esse trabalho aqueles que sofrem de depressão, aos familiares e amigos que estão ao lado dessas pessoas em um momento tão delicado.

“Eu ofereço esse disco a cada um de vocês que encontraram nas minhas músicas um consolo, um carinho, um abraço morninho, a todos que enfrentam a depressão, seja na pele, seja estando próximo a alguém que esteja vivendo esse período de renascimento.”

O primeiro trabalho de estúdio de Ana – que tem um percurso notável dentro do YouTube, com mais de seis milhões de views – conta com cinco canções. “Não Vá Embora” é o início de uma paixão. Mesmo quando se tenta negar, o sentimento está lá. “Me Cura” mostra como o amor a ajudou a passar pela depressão. Enquanto “Escopo” canta sobre o fim de um relacionamento e que nem todo rompimento é o fim do mundo, às vezes, é o início de um momento de autoconhecimento e amadurecimento. “Deixa” é uma esperança pós término. Embora as memórias e os sonhos venham, é preciso deixar ir.  Em “Árvore Seca” o ciclo se completa. Respirando com calma é possível deixar para trás quem lhe fez mal.

No fim do EP a ligação entre as canções e o conto Obsessão (1941), de Clarice Lispector, surge de forma tímida porém decidida. Há um contraste entre Cristina, a personagem principal, e a autora das canções, Ana Muller. Mas ainda assim, um vislumbre, um risco na folha coloca as duas em sintonia.

Cristina viveu uma paixão enquanto esteve hospedada em uma pensão, em Belo Horizonte (local que deveria ajudá-la a se recuperar de sua languidez, segundo seu marido). O rapaz, em questão, era Daniel. O ar de intelectual parecia combinar muito bem com a liberdade que pregava. Se apaixonar pelo sujeito foi fatal. Mas Cristina, assim como Ana, caiu em si, porque “costume nunca foi amor.”

Daniel parece a sensação que Ana canta. Uma sensação, ou uma epifania para se libertar. Cristina vai embora (depois de dois anos morando com Daniel). Mas diferente de Ana, que ao terminar de contar sua história em “Árvore Seca” consegue reerguer-se e amadurecer rumo a uma vida diferente, Cristina, em meio a sua libertação de uma relação opressora, volta a morar com seu marido, Jaime.

O ciclo de Ana, é diferente do de Cristina. O cenário opressor e patriarcal, fez Cristina ficar “Para sempre sozinha”. Já Ana, ganha força, visão e amadurecimento. Cresce, pouco a pouco, de forma deslumbrante. Talvez, se Cristina tivesse escutado esse disco, florescer como ela merecia, teria sido mais fácil, ou menos solitário.

O disco tem Henrique Paoli na bateria, Renato Furtado no ukulelê e Thiago Perovano nos violões, guitarras, contrabaixo e teclados adicionais. Produzido por Felipe Gama, no estúdio Gama Soundz em Vitória, Espírito Santo, o EP é um lançamento do selo Garimpo, criado pelo grupo Brasileiríssimos. É possível ouvir o disco nas plataformas de streaming (Youtube, Deezer, Spotify, Napster), download pago (iTunes) e download gratuito (site oficial).

Referência do livro

LISPECTOR, Clarice. A bela e a fera. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

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