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Lencinho: Superalmanaque Vertigo

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O ano era 1989. Eu tinha meus nove anos e há alguns meses juntava moedas soltas pela casa para comprar gibis de super-heróis na banca da esquina, ou na rua de baixo, onde hoje é uma igreja, mas antes era Casa Sendas. Bom, voltando. Na reta final daquele ano, os gibis da Marvel, publicados então no país pela Editora Abril, traziam um aviso sobre uma futura publicação com os personagens da Marvel num formato inédito. Praticamente todos os grandes heróis da editora estariam nele. Vejam bem. Era a primeira vez na vida que lia o maior clichê do universo em quadrinhos: histórias que vão mudar para sempre o status quo do personagem e do universo ao seu redor. Acreditando piamente nesta premissa, Superalmanaque Marvel, como era chamada a publicação, virou uma obsessão para mim. Quando finalmente foi lançado, com atraso, se não me engano, fiquei amarradão com aquele monte de página e a capa cartonada com destaque para o Homem-Aranha.

Agora olhando com distanciamento temporal e cerebral (esse nem tanto), o tal Superalmanaque Marvel era uma grande armação. Seu conteúdo era um monte de conclusão de sagas de arcos de histórias que vinham sendo publicadas nas revistas individuais dos personagens. Ou seja, o cara que vinha comprando lá sua revista fininha ao longo de alguns meses era obrigado a comprar aquele tijolão para ver o fim de determinadas histórias. Entre elas, na época, a tal Guerra dos Espectros, onde um robô chamado Rom, liderava os demais heróis contra esses seres terríveis do espaço. Eu achava chato pra dedéu. Os espectros lembravam chicletes ambulantes gigantes. Vale lembrar que na época internet não existia nem no gibi. A única forma de ler era comprando o preço que a editora definisse. E o Superalmanaque talvez fosse um meio de superlucrar com os nerds.

Os anos passaram. Mercado editorial muda. O acabamento das publicações melhorou muito mas o consumo caiu. Por isso não se fazem mais lançamentos com grandes estardalhaços. Por isso que esses dias fui pego de surpresa ao encontrar nas bancas a publicação Vertigo Especial, um encadernado com mais de duzentas páginas trazendo histórias curtas e inéditas do selo Vertigo, escritas e desenhadas por nomes como Warren Ellis, Brian Bolland, Phil Jimenez, Billy Willingham, Grant Morrison, Jeff Lemire, Brian Azarello e Eduardo Risso. A história que abre o encadernado, estrelada por Constantine e escrita por Warren Ellis é tão boa que chegou a ser proibida. No meio do encadernado tem uma história maior chamada Mate seu Namorado, do Grant Morrison que muita gente pode achar mais do mesmo: jovens assassinos apaixonados em fuga. Mas fiquem atentos pois a mesma foi escrita em 1994. Para quem curte a parceria Brian Azarello e Eduardo Risso, a dupla se faz presente em um conto de O Homem do Espaço. Ficção, drama, terror e fantasia aparecem em ótimas doses na publicação. O acerto da editora é que você pode nunca ter lido um gibi Vertigo para entender as histórias aqui presente.

Certamente uma das mais interessantes publicações de material de quadrinho norte-americano do ano.
Os personagens da Vertigo não costumam ser muito “heróicos”, a publicação por sua vez, é um verdadeiro Superalmanaque!

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Lencinho é uma daquelas figurinhas clássicas da vida carioca. Durante o dia assume diversas responsabilidades no Circo Voador e nos finais de semana coloca todo mundo para dançar em sua festa Tupiquinim ou na abertura dos shows mais incríveis da lona verde e branco da Lapa. É o criador do zine O Escracho do Regaço, além de ser um grande amante e colecionador de quadrinhos e da cultura musical brasileira.

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