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Não há ‘falso testemunho’ sobre o Festival DoSol 2016. Essas hipérboles que o evento recebe como ‘maior festival do Nordeste’ ou ‘vitrine do cenário independente’ são todas corretas. A experiência do festival é única, juntando casas de shows, bandas locais e promissores nomes caminhando junto com os fãs pela Rua Chile, praticamente forçando olhares, sorrisos e trocas, além de fazer o público se conhecer e gerar amizades, num clima absurdamente cordial e divertido. É, para este que escreve, o melhor festival do Brasil atualmente.

Dito isso, vamos olhar o outro lado para sair do óbvio textual.

Festival DoSol 2016: Mudanças

Algumas coisas mudaram das últimas edições. O palco Container passou a ter um lineup fixo, o que facilitou reconhecer e conhecer as bandas. Houve também, no domingo, shows não agendados nos palcos ‘de porta’ (Blackout e Container) com artistas que se destacaram no decorrer do festival, como uma espécie de bônus de despedida e iluminando de vez a Lista de Lily como grande revelação do evento (fizeram 3 shows, um por dia no festival!) e a Catavento como o último ruído a ser lançado na edição 2016 da etapa Natal do evento.

Desta vez, a produção assumiu a alimentação do evento e não fez feio. Não havia filas para banheiro ou comida, bares sempre abastecidos e preços padrão festival. Atrasos mínimos e raros nos palcos e informações claras ao frequentador. O open bar na área vip foi encerrado este ano, o que não deixou o Ateliê virar o encontro de artistas e conversa que regia o andar do festival, forçando a todos o caminho da rua.

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Festival DoSol 2016. Foto por Rafael Passos.

Festival DoSol 2016: Lineup

O lineup foi, de longe, o melhor escolhido nos últimos anos. Apostaram bem em artistas mais baratos como destaque, levando qualidade e quantidade ao evento. Não tivemos shows grandiosos, mas tivemos destaques e olhares fixos para os já citados Lista de Lily e Catavento, além da explosão absurda da Ventre (melhor show do festival), a viagem da My Magical Glowing Lens, o sempre ótimo show da Camarones, e as boas surpresas do Overfuzz e The Shorts. Dos destaques, nenhum configurou decepção. Tulipa Ruiz entregou seu show dançante do último disco e trocou participações no palco do Felipe Cordeiro e do O Terno – estes que já tinham sido anunciados na edição 2015, mas cancelaram em cima por doença do vocalista Tim Bernades.

Desta vez os artistas locais perderam um pouco de espaço, sendo em maioria delegados aos palcos de pouco destaque. Talma&Gadelha mostraram nova formação e fôlego novo no palco. Plutão Já Foi Planeta trouxe equipe própria e acabou atrasando o palco Petrobrás (Armazém Hall) em 20min, fizeram um show bom para um público que começava a deixar o evento.

Festival DoSol 2016: Problemas

O grande problema é o fato de ter muita coisa boa e qualidade de som ruim. Basicamente todos os artistas que assisti tiveram problemas com som. De moderado, como o Silva que pegou caixas de som cansadas, até escabrosos, como no show da Ventre, onde equipamentos pararam de funcionar, microfonias absurdas para todos os lados, sub que mais parecia claphands de tão estourados, retornos inexistentes e por aí vai. Os problemas se alastraram e dificultaram a experiência do festival e curtir shows, infelizmente.

Além disso, a quantidade de palcos assusta, soando desnecessária. No domingo, o máximo de bandas por palco eram 6, mesmo número de palcos do evento. Ninguém vai ficar pulando de palco em palco a cada show, pois o que atrai são os artistas e não os palcos, sendo que houveram diversos shows repetidos durante o evento, o que não precisava acontecer se tivesse um ou dois palcos a menos. De todas as pessoas que perguntei, nenhuma chegou a visitar todos os palcos do evento e umas até desconheciam a localização de alguns citados, como o palco Aranha ou o Blackout.

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Festival DoSol 2016. Foto por Rafael Passos.

No domingo, com a retirada de um dia totalmente focado no metal/hardcore e tentar amenizar a data, sem ‘headlines’ do gênero (em tese, não há artista principal no Festival DoSol 2016), o público chegou em menor quantidade. Acabou que os artistas do palco ‘indie’, o Petrobrás (Armazém Hall), não se sentiram muito a vontade no dia e alguns, no camarim ou em outros locais, chegaram a mostrar alguma frustração com isso. O público acabou não lotando de entupir nenhum dos palcos, sobrando destaque para a Selvagens à Procura de Lei e a Scalene, as mais próximas ao público original do dia.

Festival DoSol 2016: O Futuro

Esses problemas devem acabar no próximo ano, com a saída do festival do bairro da Ribeira e ida para uma área mais praiana, dando uma cara diferente para o evento e mudando o formato para 2017. Exigirá novas formas de montar lineup, distribuir palcos, atender ao público e criar a experiência, tudo isso sem deixar de ser a vitrine da cena independente nacional e ter o ar de troca e amizade tão forte como só esse festival consegue ter.

A posição de troca do formato e espaço parece uma cartada de oxigenação eficiente contra o esvaziamento da experiência que o evento concede e a dificuldade de conseguir patrocínios atualmente. Se um artista precisa de se desafiar em tempos e tempos, o DoSol se coloca na mesma posição de risco, mas esperançoso de explodir de vez a quantidade de elogios que, com bastante justiça, recebe.

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Músico multi-instrumentista, DJ, viajante, criador e editor-chefe do site RockinPress, colunista e curador convidado do Showlivre, ex-colunista do portal de vendas online Submarino e faz/fez matérias especiais para vários grandes meios culturais brasileiros, incluindo NME, SWU, Noize, Scream & Yell, youPIX e os maiores blogs musicais do país. É especializado em profissionalização de artistas independentes e divulgação de material através da agência Cultiva, sendo inclusive debatedor em mesas técnicas sobre o assunto na Universidade Federal Fluminense (RJ) e no Festival Transborda (MG).

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