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Entrevista: Alex Zhort (The First Corinthians)

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Em todo o local encontramos personagens inesquecíveis que tem histórias para contar. Lembro de uma madrugada aleatória que, às 5 da manhã, Alex Zhort me ligou direto de sua casa, nos EUA, para falar de aleatoriedades durante duas horas ininterruptas, intercalando palavras em português e inglês de maneira confusa, mas divertida. No alto de seus trinta e tantos anos, Alex hoje parece mais um jovem de vinte e poucos com vontade de criar desenfreadamente, soltando suas angústias em forma de música legitimamente sulista.

Americano e assumidamente com alma brasileira, Alex se divide entre viagens pelo mundo produzindo álbuns, sua família e Recife, sua verdadeira casa e onde tem grandes amigos. Foi nesta cidade que o álbum Dislocation foi gravado, com ajuda e suporte de figuras da cena local. Cada disco da banda tem uma história e um tema diferente, mas são espiritualmente e fundamentalmente sempre baseados na mesma expressão musical.

A parceria com Marcelo Gomão, o outro lado do The First Corinthians, já resultou em diversos álbum, sendo 6 agendados para 2012. Tathiana Nunes, uma das mais importantes produtoras do Nordeste, fez uma entrevista reveladora com Alex nunca antes lançada. Conheça a alma pura e perturbada de Alex Zhort.

Como você chegou no Brasil e porque Recife? Porque essa ligação tão forte com a cidade?

Eu vim para o Brasil em 1999 querendo aprender sobre a cena musical, os músicos, estúdios de gravação e produtores. Eu já tinha visto um “anúncio” de uma revista chamada BYOFL que tinha um cara de Olinda. Este era Guilherme Zé, mais conhecido como Missionário José e que agora toca em diversas bandas e trabalha como produtor em São Paulo. Através dele conheci sua banda (Supersoniques) e Marcelo Gomez, que iria tocar guitarra no The First Corinthians. Nesse período de tempo, fiz todas as amizades que ainda estão vivas até hoje, 13 anos depois. Eu não posso explicar a razão para a ligação, mas não é cultural ou arqueológico, em qualquer sentido. Era apenas uma visão compartilhada feita por músicos com os mesmos interesses e laços musicais, a experiência natural de compartilhar e fazer música.

Você não torce para o Corinthians. Por que este nome?

Não. Não tenho nenhum interesse por nenhum time profissional. Eu comecei a trabalhar nessas canções em 1999 e até agora não havia lançado nada formalmente. Então não havia necessidade de um nome. Quando chegou o momento de lançar as músicas publicamente, um nome se tornou necessário, infelizmente. Tínhamos uma lista de 9 nomes e todos tinham algum problema. O nome First Corinthians não foi uma escolha bem aceita, mas o nome soa bem aos meus ouvidos e me sinto bem quando o falo, não há razão ou sentido.

Qual foi a inspiração/motivação para este projeto?

Amor, música, Deus e o sentimento de antecipação da minha própria morte. A motivação de criar esse projeto foi simplesmente para que ele existisse e fluísse por esse mundo antes que eu morresse. Eu tenho centenas de canções para expelir da minha alma antes de morrer, então a inspiração de lançar esse projeto foi a única certeza que temos (a morte), por que eu não sei quanto tempo eu tenho de vida na Terra. A morte é uma criatura muito motivante.

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Como foi a parceria com Marcelo Gomão (Vamoz)? Você já tinha feito outros trabalhos com ele antes?

Eu já sou amigo e fã do Gomão há muitos anos. Há mais ou menos uma década que fazemos projetos juntos. Nós sempre arranjávamos tempo para entrar no estúdio e trabalhar um pouco nas suas músicas ou nas minhas a cada vez que eu vinha ao Brasil. Em 2009 eu vim para o Recife e o mostrei algumas demos minhas. No momento acredito que ele estava procurando algo novo musicalmente falando, para trabalhar. Ele gostou das músicas e começou a montar uma banda com os melhores músicos e a reservar horas em estúdios. Ele realmente foi o catalizador por trás do projeto. Nós sempre trabalhamos e funcionamos bem juntos e temos uma conexão muito forte através da música. Seu talento como guitarrista, arranjador, e compositor junto com sua paixão e ética de trabalho foi o que eu precisava no momento para levar o projeto ao um outro nível.

Quem mais participou do projeto?

No album Dislocation, gravado no Brasil, nos tivemos Johnny “The Real Deal” Rildinho (Habagaceira e Outrosim), Sérgio Kyrillos (Vamoz) nas baterias, eu e Marcelo Gomão nas guitarras e violão acústico e vocais. O Orgãos B3 e Rhodes foram gravados por um tecladista veterano americano que se chama Erik Epstein e o baixo por Mike Rasche. No EP “You have failed”, gravado nos EUA, Jason Whitus tocou bateria.

Como foi o processo de composição e gravação?

A maioria dessas canções estão na minha cabeça há anos. E elas mudam muito com o tempo e circunstâncias. Para o album “Dislocation”, Gomão selecionou mais ou menos 15 canções das minhas demos e começamos a trabalhar na calada da noite em arranjos e tal. Então levamos as canções para ensaios com a fantástica banda local que ele juntou, que na época incluía Daniel Sultanum no baixo e Rildinho na bateria. As músicas começaram a tomar forma muito rapidamente e nós levamos a banda para o estúdio Casona. E com a Engenharia de som suprema de Djalma (AMP) e Gago (Ex-Exus), nós finalizamos a maioria das 10 músicas em poucos dias. Então Gomao montou um arsenal de guitarras, amplificadores e pedais num apartamento no bairro de Setubal, onde nós construímos um estúdio de gravação temporário que se chamou 1777. Nesse estúdio gravamos todas as guitarras, overdubs e vocais num período de 3 dias muito quentes e emotivos. Quando o meu visto expirou, eu levei as faixas de volta pros EUA para completa-las, mixa-las e as masterizar para serem lançadas.

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Algum plano de lançar o EP em formato físico?

Em 2020 eu vou lançar um box set completo com todas as canções que eu escrevi e gravei na minha vida. Mais de 200 canções, em formato de vinil. Então eu vou sair do ramo da música. E eu morrerei. Até lá, nós temos a esperança de ouvir essas canções num toca discos num futuro próximo. Mas para isso se tornar realidade precisamos de interesse por nossa música… conheces alguém que possas indicar?

Onde foi que você falhou?

Eu me resolvo rapidamente com as minhas falhas. Como um grupo de músicos podemos nos adaptar e absorver qualquer falha percebida e transforma-la em um sucesso. Talvez diria que poderíamos ter trabalhado mais rápido, mas ter uma banda dividida em dois continentes é difícil.

Se música/arte é um reflexo da alma, pode dizer que a sua está abalada?

Sim. Você pode dizer isso. Minha alma foi sacudida, agredida, quebrada e quase destruída. Ela também foi soldada, remendada e restaurada. E o ciclo continua…

Faz um tempo que você acompanha a cena do Recife. Como você acha que ela está?

Nunca esteve tão boa. E já era boa quando eu cheguei. É uma cena muito unida em que as pessoas se ajudam. Eu ouvi algumas pequenas críticas internas que discordam do meu ponto de vista. Mas de uma perspectiva de um ‘semi-fora’, as bandas de Recife, seus músicos e artistas tem um senso muito forte de comunidade e comprometimento pelos trabalhos uns dos outros. E esse tipo de ambiente saudável gera inspiração, o que também gera os melhores resultados.

Música é?

Toda musica é perfeita, mesmo que você não goste dela. Nenhuma música é melhor que outra.

 

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Músico multi-instrumentista, DJ, viajante, criador e editor-chefe do site RockinPress, colunista e curador convidado do Showlivre, ex-colunista do portal de vendas online Submarino e faz/fez matérias especiais para vários grandes meios culturais brasileiros, incluindo NME, SWU, Noize, Scream & Yell, youPIX e os maiores blogs musicais do país. É especializado em profissionalização de artistas independentes e divulgação de material através da agência Cultiva, sendo inclusive debatedor em mesas técnicas sobre o assunto na Universidade Federal Fluminense (RJ) e no Festival Transborda (MG).

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