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O Sábado letárgico de Cícero

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Sábado - Cícero

Para ouvir e baixar acesse: www.cicero.net.br

Sábado parece triste e bucólico. Sem fortes emoções, o disco de Cícero – que recebe o nome do sétimo dia da semana – traz uma tristeza vazia e um pedido de entendimento sobre o que nem ele parece compreender.

Após o sucesso de “Canções de Apartamento”, a expectativa para o novo álbum parece ter desnorteado o músico de forma exagerada, resultando em um momento de introspecção. O próprio confessa a necessidade de recuar e entender o que estava fazendo. Mas, a entrada nesse processo singular e demorado o fez letárgico.

Sábado beira o cansativo pelo simples motivo de necessitar uma audição mais paciente e prestativa, que só se digere após algumas audições. Não existe um prazer imediato ao ouvir-lo. A problemática gira em torno do minimalismo e do ato de “medir” o tamanho das coisas.

Todas as faixas contam com elementos sublimes e pequenos, que acabam em um pacote de pormenores. O que podemos entender é que para Cícero a proporção desses detalhes seria maior e juntos se tornariam grandiosos, mas não é o que ocorre.

Se o detalhamento era o foco – para assim criar uma possível formação e refinamento de público – era necessário que a minúcia fosse mais valorizada. Mas o carioca parece não se importar com isso, tocando apenas para si, em um momento egoísta, onde nem as participações de Marcela Vale (Mahmundi) e Luiza Mayall são apreciadas.

As contribuições de Marcelo Camelo tocando bateria, guitarra e baixo, SILVA com seus teclados e Uirá Bueno (Canastra) com percussão e também bateria são mais perceptíveis, mas nem por isso exercem o papel de ritmar as canções, apenas preenchem espaços.

Nas primeiras audições você identifica referencias exageirada a Daughter, Radiohead, Paulinho Moska e “Chega de Saudade”, muita carga emocional destinada ao sucesso repentino, inesperado e a pressão imposta a sua carreira, muita preocupação de ser  ele mesmo, de ousar mais na utilização da língua dentro da métrica na música e também acerta ao retirar guitarras e focar na tentativa de emoção orgânica.

Destacam-se as faixas como Capim-Limão e Ela e a Lata, que criam uma sequência interiorana interessante, onde o sentimento da ausência urbana atrai o ouvido e Frevo por Acaso, que também tem seu espaço com palmas em valor de percussão.

Cícero Rosa Lins conquistou mais do que esperava, teve um forte despontamento, que ironicamente acabou fazendo-o recuar e pensar nas questões cruciais de sua carreira. Claro, ele poderia colocar essas indagações em uma trabalho mais assertivo e assim tatear seu espaço, mas preferiu se trancar com seu seleto grupo de amigos e construir pequeninas canções que ecoam apenas em suas paredes.

23 COMENTÁRIOS

  1. Concordo muito com o texto. Não dá pra gostar do disco de uma vez só. Tem que escutar várias vezes para começar a compreender ou pelo menos tentar entender o qual é a mensagem do mesmo. Mas ta ai, sucesso ao Cícero.

  2. Não achei o disco cansativo, não necessitei de mais uma audição pra digerir as melodias e letras.
    O álbum flui naturalmente, assim como o próprio Cícero preferiu que acontecesse, isolando-se das expecativas geradas sobre ele e não acho isso um ato de mal egoísmo, já que ele quis preservar-se e fazer as coisas como fez no canções, sem interferência de terceiros.

    Entre os pontos negativos, ao meu ver, está a masterização do disco que deixou a voz do Cícero bem baixinha na maioria das músicas, mas quando "Ela e a lata" – que, diga-se de passagem, é a melhor música dele – sooa, ele grita ao teu ouvido e as participações especiais que ficaram realmente escondidas, por assim dizer, nas músicas do disco.

    Fora isso o Cícero conseguiu sim passar do Canções para o Sábado, mudando significantemente entre ambos, sem deixar a desejar.

  3. Ainda estou digerindo o disco, mas a primeira impressão que me deu foi muito boa. Tô re-escutando ele algumas muitas vezes.

  4. Re-escutando estamos todos. Mas re-escuto por ter gostado, mesmo e não pra poder gostar.

  5. Já foram 3 vezes aqui. O disco tá muito bom. Ninguém chamou o Canções de introspectivo porque o Cícero tava se mostrando pela primeira vez, por isso o disco tem cara de outdoor. Mas o Canções foi um disco bastante do Cícero, tanto que ele fez sozinho. Sábado é um ótimo disco, adorei.

  6. Acho que conto a segunda vez já que tô re-escutando e tô começando a digerir o disco como um todo. Foi bem interessante a passagem que ele fez do Canções pro Sábado, como tu disse. Tô percebendo isso aos poucos.

  7. extremamente cansativo. tem como mérito, porém, não ser um disco pra adolescentes que não viram Los Hermanos no auge ou para fãs da intragável Maria Gadu e, como demérito, o fato de ser um disco unicamente para o próprio autor. Cícero se espelha nas esquisitices de Thom Yorke, flerta com David Bazan e produz alguns bons temas instrumentais, mas em cansões incompletas e pesadas. agrava ainda mais o trabalho de mixagem: o Bruno Giorgi matou muito da vida que as faixas poderiam ter.

  8. Ainda bem que o Cícero não fez um álbum só de hits para ouvintes preguiçosos. Sábado me agrada mais que o Canções.

  9. eu, no máximo senti falta de mais experimentações com guitarras, mas o disco tá muito bom e ele comunica. O Canções também não é um disco direto, é cheio de metáforas, o problema é que por ser seu primeiro disco a gente tem ele como mais direto que o Sábado. Esperar por outro Canções de Apartamento é limitar, o Sábado é diferente e o próximo disco dele também vai ser, esse é o tipo de artista que o Cicero é. O disco tá massa, leve, introspectivo, simples e bonito.

  10. Diversas resenhas que li (incluindo a sua) batem nessa mesma tecla de que o Sábado seria morno demais, abafado, menor, sempre em comparação com o Canções. Pois eu fico aqui pensando: se o Sábado fosse solar, quente, mais explosivo, esses mesmos críticos acusariam o Cícero de ser um caçador de hits, um acomodado ou um Lulu Santos metido a Thom Yorke. Esse é o disco que ele quis fazer, da maneira que considerou mais apropriada para expressar suas intenções/inspirações/estados de espírito. Claramente, se ouvirem com atenção, perceberão que ele não quer soar experimental coisa nenhuma. Ele quer soar espontâneo e verdadeiro com seus desejos. Assim como no Canções, porém agora num outro registro, numa outra chave. Por que há essa dificuldade de analisar a obra a partir daquilo que ela mesma apresenta? Deve ser porque fazer esse exercício de mergulhar num disco, compreendê-lo e, aí então, analisá-lo dá mais trabalho, não é?

  11. Todo artista tem o direito de fazer a sua arte sem essas amarras, a liberdade soa nesse disco, é autoral, vai agradar a alguns e outros não, apenas isso, eu gostei do som.

  12. Uma das coisas que a maioria das bandas/dos cantores não conseguem fazer é manter o estilo no segundo álbum, o que o Cícero conseguiu com muito mérito. Totalmente Radiohead, Beatles, MPB. Um cd que não se consegue escutar apenas uma vez. Um cd que mostra a liberdade que ele próprio tem de fazer a música de acordo com a sua vontade, sem uma produtora/gravadora querendo uma música mais comercial. Para quem gosta de música comum é só escutar outra coisa, quem gosta do estilo, gosta de Cícero.

  13. Ao meu ver, o disco, com as suas especificidades, está tão bom quanto Canções de Apartamento. Cansativo é ler constantemente críticas que não levem em consideração o caráter experimental extremamente bem trabalhado do álbum. Enquanto o Canções possui uma leveza subjetiva, que valoriza a metaforização das letras, acima de tudo, em Sábado, Cícero focou mais na estruturação dos textos. O disco possui algumas letras-poemas de linha concretista incríveis! Sem contar na maturidade das próprias letras e temática destas.

    Além disso, antes de querer agradar a todos os seus fãs, qualquer cantor tem que buscar um estilo musical que agrade a si próprio. É o que Cícero está fazendo e ele mesmo disse que já esperava não ter total aceitação por parte do público. É difícil lidar com pessoas que gostam de criticar sem embasamentos.

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